Esse campo obrigatório não poderia ficar em branco.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.

poema: Cecília Meireles
foto: gi.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Disparada


Buracos, (crateras) nas ruas, cobertos por piche vagabundo. O ônibus com um preço absurdo, mais caro que um prato de almoço no restaurante popular. Postos de saúde com filas imensas, formadas por pessoas doentes, cansadas e inertes. Apagões com freqüência. Enchentes em bairros que nem rua possuem. Horário de almoço dos lixeiros, que tanto se cansam, reduzido para quinze minutos, marmitas cortadas. Pedintes sedentos de dignidade, sedentos de dinheiro, sedentos de oportunidade. Escolas sem rendas para livros e materiais. Impostos altos, dividas crescentes da prefeitura...
Festivais e mais festivais para atrair turistas ''gringos''. Um natal de mais de um milhão. Árvorezinhas no meio da rua. Enfeites em todos os postes do centro. Terminais construídos para nada (ou para piorar a situação). Belas fontes. Belas músicas. Linda iluminação no cristo redentor (enquanto falta iluminação nas casas dos trabalhadores). Mentiras e mais mentiras, sustentadas pela hipocrisia do governo e pelo comodismo do povo.
Protestos que não resultam em nada... Até porque, como resultar em algo se não há persistência?! Até quando? Até quando iremos agüentar essas injustiças sendo esfregadas nas nossas caras? Até quando iremos ficar com a bunda colada na cadeira do computador reclamando sobre o prefeito e não fazendo nada pra mudar a situação? Todo mundo sabe! Todo mundo vê! Todo mundo comenta com o vizinho! Mas depois de comentar, todo mundo muda de assunto... ''todo mundo'' vai ver a novela.
E aí, quando vem uma notícia catastrófica, abafam o caso, a televisão da cidade abafa o caso... É claro que depois de um tempo voltam a criticar o prefeito e seus atos infames, mas que abafam ou diminuem o grau de importância, “aaaaa” se diminuem!
De que adianta ficar revoltado? DE QUE ADIANTA? Sozinho, meu caro, você não vai conseguir tirar o prefeito dali com tanta facilidade! Mas juntos, MUITO adianta...
Agora pense:
SE todo mundo que reclama saísse nas ruas;
SE todo mundo que reclama desse um grito de indignação;
SE todo mundo que reclama não mudasse de assunto até o problema ser solucionado;
SE todo mundo que reclama, parasse pra pensar e de súbito dissesse: CHEGA!
SE todo mundo que reclama, fosse nas terças-feiras até a câmara municipal e participasse das decisões de nossa cidade, expondo suas opiniões e defendendo até o fim os que não podem expor!
SE todo mundo terminasse de ler esse texto e como que em um passe de mágica, decidissem sair pras ruas, todos juntos!
Porque, vamos lá... Motivo não falta, aliás, até sobra, transborda motivos para a revolta. O problema é a gente...

Gi.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Você vê?



Dormindo no canteiro bem cuidado
encontra-se o proletariado.
Pegando latinhas e papelão;
sai por aí um homem, cidadão.

Vendendo seu corpo,
ganhando pelo seu suspiro,
prostitutas mascaradas
nas ruas desfilam.

Lixeiros fazem maratona,
correndo atrás do caminhão.
Depois que pegam o lixo de todos,
recebem seu salário;
que não ''dá nem pro pão''.

A professora explica a matéria
e enquanto os alunos a-apedrejam,
fala sobre política e miséria.

O prefeito toma um café
reclamando de cansaço.
Enquanto sua mulher ''tá'' na igreja
de salto alto e casaco.

E Deus se ausenta,
na vida dos pobres coitados...
que jazem com fé e lamento
dentro de um caixão parcelado.

Gi.