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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ao mar eu ei de perguntar


Foi-se junto à correnteza,
Foi-se depois de muita humilhação,
Fumaça e desprezo.
Sim, foi-se.

Onde está?
Sabe-se lá!
É censurado falar,
Ao mar eu ei de perguntar.

Foi-se, um vazio deixou.
O chão, que era seco,
Com lágrimas se inundou.
Mas porque se foi?
Quem se foi?
Foi porque tinha boca,
E falar? –falou
Quem se foi?
Ah, os que mais mereciam ficar.

O mar, o vento
A brisa, o tempo
Hoje são seu aposento.
Pois se foi. Junto ao seu direito.

Na terra deixou saudade,
Esperança, admiração.
Mas pelo mar foi-se indignado,
Com dor e exaustão.

Voltar? –não voltou.
Pois se foi.
Foi-se.

Por uma injusta causa,
Penduraram-no. Ele falou
Sufocaram-no. Ele falou.
Contorceu-se. Mas falou.
Arrastaram-no. Por fim.

E como já não podia mais falar,
O mar o – levou.
Com a correnteza,
Foi-se a música, o pai,
O marido e o avô.
Foi-se o sorriso, o choro,
A alegria e a dor.

Voltar? –não mais voltou.
Saudades? –deixou.
Foi-se.
Gi.

*Poema sobre a época da ditadura, aos mortos e maltratados injustamente e aos exilados.


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